Hace unos días recibí un mensaje de Carlos Augusto Corrêa. Es cronista, ensayista y poeta brasileño. No sabíamos el uno del otro hasta que un amigo suyo compartió uno de mis poemas en su cuenta de facebook. Se trataba de "Punto de ebullición", un poema del libro La casa rota (2009), que forma parte además de la antología Ciencia y Poesía en Panamá (2011), con la selección de Isabel Herrera de Taylor.
Alentado por la curiosidad, Carlos decidió preguntarme si tenía más textos, pues nunca había oído hablar de mi. Intercambiamos mensajes por espacio de una semana, lamentando un poco la escasa accesibilidad de textos de autores panameños en otros países del continente, pero con la firme disposición de ayudar a la difusión. De alguna forma llegamos a vincular las luchas socio-ambientales a la literatura y ello provocó que el hiciera una crónica pequeña sobre la hondureña Berta Cáceres y su similitud a Chico Mendes. Toda esta correspondencia estuvo fluyendo en dos idiomas, cada quien con el suyo. De manera que hace un par de días, Carlos me regaló estas palabras, que también fueron cuestionamiento para mi en varios sentidos, entre ellos ese donde se rompen las barreras del idioma por la curiosidad de juntar las piezas de este juego en el que estamos participando con nuestras vidas. "Chão de Praça Carlos Augusto Corrêa Lucy Cristina Chau e A Negra A poesia muitas vezes se volta para a cidade, para o mundo como um todo e mostra a inquietação do poeta com os fatos que ele vivencia. É quando o autor não se conforma com os dramas políticos e sociais de seu tempo e cria no poema uma realidade que se opõe ao que existe como rotina. Foi este o caminho percorrido por um Brecht, um Maiakovsky, poetas que viraram as costas para o marasmo de uma época e buscaram na arte um espaço de convivência maior entre os homens. Fundaram uma obra poética que funcionou como uma espécie de comuna poetizada. Por falar em poesia, ando muitas vezes aqui no Face lendo poetas, sobretudo das novíssimas gerações e em certos momentos me surpreendo. Outro dia o professor Oswaldo Martins em sua coluna de poesia me enviou o texto de uma poeta panamenha, Lucy Cristina Chau. O título: ponto de ebulição. Li e a primeira impressão (dizem que é a que fica, mas nem sempre) foi de uma escritora concisa, de imagens lúcidas e bem colocadas. Então, o cronista aqui - que já comentou muito sobre poesia na imprensa oficial - quis ler mais um e outro de Lucy. Nova surpresa. Bati os olhos num poema intitulado A Negra e em outro intitulado Tanto. Senti logo estar ao lado de uma poeta de muito boa estirpe. Abelhudo que sou, mas em termos profissionais, procurei a biografia e verifiquei ter a poeta intensa atividade artística . Em 2006 ganhou um Prêmio Nacional de Poesia Jovem Gustavo Batista Cedeno em 2006. Dois anos depois veio outro também de poesia: Prêmio Ricardo Miró. E desde 2010 coorganiza o Festival Internacional de Poesia Ars Amandi, no Panamá. Isto é o mínimo do mínimo que posso adiantar sobre esta moça talentosa com vida artística, como veem, bem desenvolvida em seu país. Hoje vou deixar de lado o seu poema Tanto, muito eficiente, por sinal, pra tecer algumas considerações sobre o texto A Negra. A propósito, conversando aqui com Lucy, ela me disse que o tinha composto há sete anos. Mas às vezes, e ela sabe disso, aquilo que sentimos não ter mais muito a ver com o que pensamos da linguagem hoje, é justamente o que mais atrai o ouvido de um leitor. A Negra é um texto atual. "Hay una negra detrás de mis anos/ que mueve mis caderas quando bailo." Por esses versos iniciais essa atualidade é visível.Lucy assume o mundo da negritude, a ponto de uma negra, no segundo verso, mover parte de seu corpo quando dança. Verso de uma sensualidade, prova de sua identificação com a boa raça. Leio o poema e não me prendo só ao seu significado imediato. Claro que não. Vou me lembrar de imediato do colonialismo hispânico e do brasileiro que mantiveram o negro em condições subumanas. Foi dura a escravidão na América Espanhola que, segundo informa a pesquisa da Universidade de Emory em Atlanta, levou para lá 4,8 milhões de negros africanos. Foi uma escravidão que provocou rebeliões como a do Peru, a do sul do México. Um escravismo intolerável que causou a formação dos quilombos na Colômbia e Venezuela. A história registra que esse período trágico da humanidade (que veladamente ainda persiste no mundo) provocou no Haiti uma revolução sangrenta e pôs no poder líderes negros. Um poema como A Negra convida o leitor a fazer o mesmo que Lucy: identificar-se com a luta do negro, buscar a valorização de suas raízes. Induz o leitor a sentir que nossa história de latinos tem uma grande gota de sangue negro, e disto não podemos NUNCA nos envergonhar. Nessas três estrofes de versos entre nove, dez, onze, doze sílabas , enfim em versos livres mas bem controlados, não há quem não se comova com o drama humano motivado pela escravidão. Não se trata de uma identificação ingênua diante de um texto sentimentalóide. Não. Longe disso. Esse texto de denúncia refinada faz suscitar em nós um protesto sutil. Prestem atenção. A mistura do feitiço, do tambor, dos ritmos africanos, do ashé, com o corpo da poeta e no fundo com o do leitor significa identificação. É identificação a presença da mãe dizendo que era branca e súbito viu nascer a negra. Estou feliz de estar apresentando ao público desse nosso patropi um pouco da vida e da obra dessa poeta nova e que já é festejada em seu país. Mais: é uma criadora que tem consciência de seus recursos e sabe como é importante para um poeta trazer os grandes temas para um texto artístico". Ahora me toca a mi averiguar un poco sobre este poeta de la generación de la década del setenta, y aunque seguramente deba leerlo en portugués, ya presiento que habremos roto las barreras del idioma en esta plaza abierta que es la internet.
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AutoraEscritora, docente universitaria, traductora e investigadora. También se ha desarrollado en el campo de la música y las artes escénicas de la mano de artistas y grupos artísticos como Clavo y Canela (2000), Trópico de Cáncer (2004), El Kolectivo (2012) Teatro Carilimpia (2014) y Mar Alzamora-Rivera (2015) Archivos
Julio 2022
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